Rede ObservaRH - Observatório RH da UFRN

[...] A área da gestão e trabalho e da educação na saúde é muito complexa e também estratégica para gestão do sistema de saúde, no entanto, paradoxalmente, não há muitas pessoas qualificadas para atuar na área. Janete Castro

Entrevista

Janete Lima de Castro | Coordenadora do Observatório RH - UFRN

Janete Lima de Castro é coordenadora do Observatório de Recursos Humanos em Saúde da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (Observatório RH-UFRN), criado em 2001. Professora do Departamento de Saúde Coletiva e pesquisadora do Núcleo de Estudos em Saúde Coletiva da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (NESC/UFRN), Janete leva adiante o projeto de promover a difusão de conhecimento e informação em política, gestão e capacitação de pessoal na área de saúde coletiva, cumprindo assim o papel do Observatório RH – UFRN ao oportunizar para a gestão do Sistema Único de Saúde, informações sobre a força de trabalho em saúde. Em entrevista concedida, em janeiro de 2015, ao jornalista Gustavo Sobral, pesquisador colaborador do Observatório RH, a professora fala sobre a finalidade, as ações e o trabalho do Observatório RH – UFRN.

Observatório RH: Qual é o papel do Observatório RH – UFRN? Janete Castro: O Observatório RH - UFRN assume a missão de reunir informações sobre a força de trabalho em saúde, promover análises e manter diálogos com a área acadêmica, profissionais, gestores e entidades do setor, constituindo uma contribuição ativa para refinar e melhorar políticas públicas e estratégias de gestão, regulação e formação para os recursos humanos em saúde.

Observatório RH: Quem são os colaboradores do Observatório RH – UFRN? Janete Castro: O Observatório RH-UFRN está sediado no Núcleo de Estudos em Saúde Coletiva e alberga o grupo de pesquisa em gestão, trabalho, saúde e educação do Departamento de Saúde Coletiva da UFRN, integrante do diretório de pesquisa do CNPQ. O Observatório é formado por professores, servidores e estudantes de diversos departamentos da universidade e também por técnicos da saúde municipais e estaduais. É uma equipe multidisciplinar.

Observatório RH: Qual a base de atuação do Observatório RH – UFRN e as linhas de ação? Janete Castro: O Observatório RH-UFRN tem por base de atuação a área de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde do SUS. As linhas de investigação adotadas estão associadas basicamente à temas como trabalho e saúde, educação e saúde, história, memória e cooperação técnica em saúde. Suas atividades se caracterizaram pela articulação com instâncias colegiadas do estado do Rio Grande do Norte, com o órgão nacional de gestão do SUS (Ministério da Saúde), secretarias estaduais e municipais de saúde, com outros Observatórios e entidades do Setor, além da interação com a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS/OMS).

Observatório RH: O Observatório RH – UFRN é parte de uma rede, que rede é esta? Janete Castro: O Observatório RH-UFRN integra uma rede nacional, a Rede ObservaRH no Brasil, implantada em 1999, sob a coordenação da Secretaria de Gestão do Trabalho e da Educação em Saúde, do Ministério da Saúde (SGTES/MS), com o incentivo do Acordo de Cooperação Técnica entre o Ministério e a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS); e também integra uma rede internacional, a Rede Intercontinental Observatório de Recursos Humanos em Saúde, iniciativa da OPAS/OMS, que atualmente congrega diversos países da Região das Américas.

Observatório RH: Qual o objetivo de estar em rede? Janete Castro: Trabalhar em rede fortalece o nosso trabalho, eu poderia dizer que somos um grupo nacional de pesquisadores que se dedica a estudar a gestão do SUS nos aspectos relacionados à gestão do trabalho, qualificação da força de trabalho, tendências do mercado de trabalho entre outros. Também nos preocupamos em mapear as experiências nacionais e internacionais da nossa área. O objetivo é monitorar tendências que repercutem nas políticas de recursos humanos em saúde nesses países.

Observatório RH: Como funciona no Brasil a rede de Observatórios? Janete Castro: No Brasil há diversas estações de trabalho, cada um tem a sua expertise e interesses de pesquisa, mas com um foco em comum, apoiar a área da gestão do trabalho e da educação na saúde, fornecendo informações para que os gestores possam avaliar e reorientar as políticas implantadas nessa área. O que une as estações é a compreensão da força das atividades colaborativas, por isso apoiamos e participamos do edital lançado em 2013 pelo Ministério da Saúde que apoiava os projetos realizado em parceria entre os Observatórios. O Observatório RH - UFRN apresentou proposta juntamente com o Observatório da UnB, nós vamos mapear e caracterizar as novas profissões e ocupações em saúde que vem emergindo nos níveis médio e superior, frente ao atual contexto e perfil sanitário brasileiro, na perspectiva de analisar suas inserções e ou contribuições para os serviços de saúde do Brasil, procurando estabelecer um paralelo com outros países.

Observatório RH: Qual a origem dos Observatórios? Janete Castro: Em 1999, em reunião realizada pela OPAS/OMS em Santiago do Chile, foi criada oficialmente a Rede Observatórios de Recursos Humanos em Saúde. Nessa reunião foi discutida importância de se ter mais informações sobre a força de trabalho em saúde de cada país. Da discussão resultou a definição do principal objetivo da Rede: apoiar o fortalecimento de políticas de desenvolvimento de recursos humanos no marco dos processos de transformação dos sistemas de saúde.

Observatório RH: E quando foi criado o Observatório RH no Rio Grande do Norte, e em que contexto? Janete Castro: Em 2001, por um duplo convite, da OPAS e do Ministério da Saúde, fui convocada para instalar o Observatório RH no Rio Grande do Norte, como eu estava trabalhando no NESC/UFRN conversei com a coordenação da época que acatou nossa proposta e, assim, começamos. Um grupo bem pequeno, mas muito trabalhador. Muito devo a Marize Castro (jornalista e técnica da UFRN) e a Alessandro Amaral (diagramador e web designer), por dias discutimos o desenho do nosso Observatório. Ao chegarmos a uma definição, esses dois profissionais não mediram esforços para a construção do nosso site e a construção do material que iria alimentar o site, além de outras atividade que fizemos como a publicação de vários livros. Foi um trabalho maravilhoso. A princípio, o nosso Observatório teria como missão elaborar estudos com foco estadual. Fomos o primeiro Observatório que surgiu com este foco, um Observatório piloto, depois vários outros acompanharam. Com o decorrer do tempo e passamos a expandir nossas atividades para todo o Brasil.

Observatório RH: Quais são as principais atividades desenvolvidas pelo Observatório RH - UFRN? Janete Castro: Nestes treze anos de atividade, desenvolvemos diversas pesquisas, publicamos livros e ofertamos cursos. Nos últimos três anos, a convite do Ministério da Saúde, passamos a investir na oferta de cursos em gestão e trabalho em recursos humanos em saúde, na modalidade de educação a distância. Esta atividade tem sido realizada em parceria com a Secretaria de Educação a Distância da UFRN. Devo dizer que tem sido um atividade que tem nos ensinado por bastante. Encerramos, no ano passado, uma/a pesquisa nacional sobre o funcionamento das Mesas de Negociação do Trabalho. E no momento estamos desenvolvendo mais três em parceria com outros Observatórios.

Observatório RH: O Observatório RH – UFRN já está em atividade há mais de dez anos, quais os avanços, as mudanças, o que você percebe de diferente nas demandas naquele tempo e hoje? Janete Castro: No final de 2001, começamos a organizar o Observatório. Em 2002, iniciamos nossas primeiras pesquisas, lançamos o site para divulgação e propagação de estudos e pesquisa, publicamos entrevistas com pessoas chave e criamos um canal direto para falar com o gestor de saúde. Fomos o primeiro Observatório a lançar um site com segmento de notícias, para divulgação de eventos, acontecimentos na área de gestão do trabalho no Rio Grande do Norte e no Brasil, publicamos livros, Começamos a publicar em 2001 e, até 2008, tivemos uma vida muito ativa e produtiva, quando foi necessária uma parada. Após um intervalo de três anos, voltamos a investir no site que terá seu novo lançamento em março deste ano. Esta entrevista faz parte deste lançamento. Mas, retomando a sua pergunta sobre as novas demandas atuais e se houve mudanças nessas demandas, eu responderia que sim. As instituições de saúde estão mais exigentes em relação às pesquisas desenvolvidas sobre e para elas. Eu acho isso ótimo, obriga as instituições de ensino a se aproximarem mais dos serviços. O próprio Ministério da Saúde, ao lançar o edital que falei anteriormente, deixou muito claro para os Observatórios de recursos humanos qual era a sua demanda.

Observatório RH: Qual a importância do Observatório RH – UFRN? Janete Castro: A área da gestão e trabalho e da educação na saúde é muito complexa e também estratégica para gestão do sistema de saúde, no entanto, paradoxalmente, não há muitas pessoas qualificadas para atuar na área. Para dizer a verdade, não vejo interesse nos técnicos dos serviços de saúde, talvez devido à sua complexidade, das amplas frentes e dos grandes conflitos. Também sinto, nas instituições de saúde, grande falta de conhecimento em relação aos instrumentos, mecanismos e estratégias de gestão de recursos humanos, assim como também da pouca prática no uso informação como um instrumento da gestão para, como já disse antes, formular, planejar, executar e avaliar políticas direcionadas à força e trabalho. É nesse cenário que se faz pertinente a existência de grupos (quer estejam nas universidades ou nos serviços de saúde) que se preocupem com a informação para a gestão, e esses grupos estão nos Observatórios, pelo menos grande parte. Sinceramente, acho que os Observatórios de Recursos Humanos devem ser mais demandados pela gestão do SUS pois eles podem ser grandes parceiros.

Observatório RH: Qual o principal desafio para o futuro do Observatório RH – UFRN? Janete Castro: Voltar a atuar mais estreitamente com as instituições do SUS. Nesses últimos anos ampliamos o nosso grupo de pesquisadores colaboradores, fortalecemos nossas parcerias com outros Observatórios e com o Ministério da Saúde e desenvolvemos pesquisas de âmbito nacional, agora queremos voltar apoiar as instituições do nosso estado, sem deixar de trabalhar no cenário nacional, é óbvio, mas creio que estamos em boa conjuntura para voltar a estreitar os laços com as instituições locais.